quinta-feira, 25 de novembro de 2010

FLORES

Por que será que as pessoas optaram por colocar as tais flores de plástico no lugar do repouso dos seus entes queridos? Algumas até parecem de verdade. Outras são cópias grosseiras dessa beleza rara, que a natureza cria para encantar os nossos olhos.
Tudo isso tem apenas um significado: podemos esquecer os mortos, pois as flores artificiais não precisam de cuidado. Ai está o "X" da questão: o cuidado. Somente cuidamos daquilo que tem vida. Os mortos estão mortos. Porque lhe dar flores vivas? O sentido de oferecer flores caiu no nosso prático espírito moderno das facilidades.
Eu estava distraído nesses pensamentos, quando observei um túmulo diferente. Era de uma garotinha muito nova, quem sabe doze anos. Havia gramináceas plantadas sobre o túmulo, enfeitado com bonequinhas, borboletas e flores. Acredite: de verdade!!! Bem ao lado havia uma árvore onde uma casinha abrigava pequenos pássaros atraídos pela comida que alguém generosamente deixava ali. Beija-flores vinham beber a água açúcarada que existia em um recipiente próprio. Alguns vasos de flores estavam ao redor daquele monumento à vida. Descobri que a pessoa que mantinha aquele lugar tomara o cuidado de deixar uma garrafinha de plástico com água e um pequeno furo, de modo que a água ia aos poucos alimentando as flores.
Afinal, o plástico não era tão ruim assim. Percebi que as garrafas estavam vazias. Enchi as garrafas e coloquei novamente nas flores. Antes de sair, fiz uma prece natural, impossível não ser elevado ao êxtase quando a vida vence. Aquela gorotinha vive... Vive muito!
As flores são símbolos fortes de vida. São sinais de cuidado. São presentes infalíveis. Em qualquer ocasião da sua vida que requer um cuidado maior dê flores. Mas de verdade!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

AS PEQUENAS MEDIDAS

Grandes medidas é que fazem a diferença no mundo. Pensei dessa forma até poucos dias atrás. Foi um acidente caseiro, fui puxar uma tábua e ela caiu no meu pé, imediatamente o sangue começou a jorrar e percebi que, além de doer muito, eu havia perdido a unha do dedão. A noite fiquei pensando e quis aprender com o acidente. Se a tábua tivesse caído um centímetro a frante, não teria me tirado de vários compromissos. Há momentos que pequenas medidas que determinam o resultado de tudo.
Os sonhos se concretizam nas pequenas realidades. Quem tem grandes sonhos haverá de descobrir as iniciativas menores que os possibilitarão. Dar um passo já é uma iniciativa louvável para quem precisa andar dez quilômetros. De passo em passo, a distância vai se tornando menor, a estrada vai nos fazendo chegar.
O amor conjugal também depende de pequenos empenhos. O que faz o amor durar no tempo são as pequenas medidas de dedicação. Um bilhete deixado sobre a mesa declarando amor, um pedido de perdão depois do erro, um sorriso no amanhecer. Tudo constitui o grande mosaico da felicidade que tanto desejamos. Um grande amor se constrói a partir de pequenos detalhes.
Depois do meu acidente alguma coisa mudou em mim. Percebi que as pequenas medidas, quando somadas fazem a diferença. O valor e o determinativo de uma realidade tão pequena se afloraram em mim com seu poder de ensinamento. Os dias continuam amanhecendo, a vida continua seguindo o seu curso e os relógios ainda apontam a hora de chegar e de partir.
Eu continuo aqui, fazendo menos que eu deveria fazer. Só não quero deixar de aprender. Quero assimilar sempre mais a sabedoria de desvendar os segredos que se escondem nos pequenos fatos. Eles podem nos transformar. Mas hoje eu não quero muita coisa, quero apenas um centímetro de felicidade.

sábado, 25 de setembro de 2010

VIDA QUE REBROTA

Tempo de primavera é tempo de abrir as janelas da alma, permitindo que o sol nos ajude a perceber a poeira que está se acumulando em nossa sala de estar. Natureza ainda tocada pelo frio já calmo, ventos que trazem à vida a certeza de que a mudança será para melhor.
A vida é sempre generosa. Mesmo que meus olhos não possam perceber, nem desvendar, uma graça velada insiste em perpassar as entrelinhas da dor. Em tudo, prevalece a generosidade da vida que, nos dá a possibilidade de desvendar as mais opacas realidades e perceber nelas um brilho silencioso.
Regra que a vida não abre mão: sofrer é uma forma de crescimento. Basta olhar para a natureza que sofre as durezas do inverno. Para as árvores que se decidem por deixar ir embora suas folhas, para que a seiva se concentre na raiz e para que a superficialidade de sua copa não consuma o seu fundamento primordial.
Ensinamentos que no silêncio se dão. Que perder as folhas é mais sábio do que deixar morrer a raiz. Que deixar desprender os acessórios é uma forma de aliviar o corpo de seus pesos.
Sabedoria que nos ensina que mesmo que estejamos despojados de alguns sonhos, visto que as urgências nos levam a escolher e priorizar algumas realidades, tenhamos coragem de cuidar das raízes. Se elas ainda estão vivas, os sonhos ainda poderão renascer, afinal, é delas que poderão rebrotar o que insistimos em matar em nós mesmos. Na raiz, permanece a memória da planta.
Hoje é dia de ser melhor, é dia de ser feliz. É dia de recolher as graças cotidianas que nos sensibilizam para as possibilidades que são próprias desta hora e ensinam-nos a esperar por aquelas que estão reservadas para amanhã.
Recolhamos as graças e as possibilidades de hoje. E, se por acaso notarmos que nos faltam algumas, saibamos esperar, afinal, hoje ainda não é amanhã.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

SETEMBRO EM NÓS

Setembro dá adeus a Agosto. O mês de nome pesado dá lugar à leveza do mês que é sinônimo de primavera. Passagem que nos leva a uma nova estação, novos ares, novas cores.
A vida é sempre generosa, penso nos mistérios de nossas passagens, nas novas oportunidades, nos desgotos que passou, para os setembros que há em nós. Na crueza de tantos acontecimentos que parecem dilacerar as esperanças humanas, condenando-nos ao mal da estagnação. O Mal é a ausência de possibilidades. Já não há o que intervir, o que fazer, o que perdoar, o que amar e nem o que dizer. No Mal, prevalece a consciência infeliz, a certeza de que não fez o que deveria fazer, que não amou o que deveria amar e que não foi o que deveria ter sido.
Ao contrário, o bem é a certeza de ter estado no lugar certo, fazendo ainda que precariamente o que era certo, e amando, mesmo nos limites da finitude do amor humano. O amor só é concreto a partir dos limites que são próprios de nossa condição. O amor nos faz esquecer, nos faz passar e nos faz permanecer.
Cada um carrega o peso que tem. Peso de ser o que é, de fazer o que faz. Há pessoas que decidem pelo mal, porque não se descobriram a tempo. Deixaram a vida passar e não concretizaram os seus sonhos. Optaram por mandar embora a sua verdadeira essência e acolheram um jeito alienado e estranho de ser. Permitiram que o medo, esse forasteiro que insiste em assassinar o que somos, vitimasse-lhes a sua verdade maior. Passaram a vida, convivendo com o cadáver de sua realização. Mataram-se e dispuseram-se a viver, velando a si mesmas.
Há pessoas que carregam o peso de não terem feito o que queriam, de não terem amado quem gostariam e de não terem lutado um pouquinho mais pelos sonhos que nutriam. Viveram e não descobriram a sabedoria que "setembros" podem nos trazer.

domingo, 25 de julho de 2010

VITÓRIA DISFARÇADA

Vencer era uma obrigação, um compromisso com a pátria que estava pronta para comemorar. Ao final da partida conta a Holanda, ninguém podia acreditar no que havia acontecido. Estávamos eliminados da Copa.
Coisas do esporte que nos ajudam a pensar a vida. O titulo não veio, mas a sabedoria nos permite tocar a realidade fosca para dela extrair o brilho velado. O acontecimento nos mostra que a equipe se perdeu na emoção. Mais uma vez a expectativa matou a possibilidade.
Só gostaria que esses acontecimentos nos ensinassem algumas coisas, para não caíssem no esquecimento. O ensinamento redime o fato.
Quem joga quer ganhar. Essa regra prevalece sempre. Mas há um mistério em cada perda, vitória disfarçada. Na vida, vencer nem sempre é o melhor caminho. Perder, por vezes, faz bem. O primeiro lugar do pódio pode nos distanciar de nós mesmos.
Falo da perda no sentido de não obter um resultado almejado e justamente por isso, sermos forçados a modificar estratégicas, maneiras de pensar e, dessa forma, descobrirmos novos caminhos, que nos conduzirão ao lugar que antes queríamos. Não tenha dúvida, que saber perder é uma virtude tão grande como saber ganhar.
Quantas vezes na vida conjugal fazemos o propósito de perder em uma discussão, evitando assim males maiores, o que poderia até representar o término de uma relação.
Que possamos aprender, no entanto, por mais que sejamos favoritos, haverá sempre momentos de derrotas. Há sempre um limite que devemos respeitar; a calma, a concentração, é o recurso que nos leva ao acerto. Que começamos atribuir um novo significado ás derrotas, verdadeiras conselheiras para nos guiar no futuro ao sucesso que tantos buscamos.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

PERDOANDO DEUS

Odiar é também uma forma de amar. Diferente, mais é. É que o coração humano nem sempre consegue identificar o sentimento que o move. É claro que existem situações em que o ódio é ódio mesmo, mas, em outras, não. Insatisfeito com os dramas da vida e machucados com o mistério da solidão, do abandono e da morte. Tenho encontrado pessoas que se queixam de dificuldades de amar a Deus. Em outros casos, a visão que têm de Deus (erradamente) é a de que ele é um juiz vingativo e cruel.
Após uma crise dessas, quando alguém quer voltar a ter um bom relacionamento com Deus, encontrará dificuldades, pois o seu coração está ferido, magoado, decepcionado.
Eis ai a necessidade de perdoá-lo. Você pode argumentar que Deus é perfeito em todas as suas atitudes. Mas por incrível que pareça é preciso perdoar o Pai, porém, devemos compreender uma verdade importante no que se refere ao perdão a Deus. É preciso compreender e saber que "Deus não precisa do seu perdão", mas "Você precisa perdoá-lo" para que seu coração fique curado. Deus não precisa do seu perdão, porque efetivamente ele não errou , ele não é o culpado do seu problema.
O segredo sutil de perdoar a Deus é que o nosso psiquismo precisa encontrar um culpado, e nesses casos geralmente ele acusa Deus. O psiquismo não procura saber se é ou não culpado aquele que o ferio. Ele simplesmente afirma: " eu estou ferido! feriram-me! estou machucado, traumatizado! não me importa se fizeram de propósito ou não! O certo e o que me interessa é que eu estou ferido!" Perdoar a Deus: Eis uma ótima forma de esquecer os pesadelos e criar a possibilidade de um novo filme, de uma nova atuação, tornando a vida única e feliz.

terça-feira, 25 de maio de 2010

SOMENTE O TEMPO SÓ

" Somente o tempo, o tempo só. Dirá se irei luz ou permanecerei pó, se encontrarei Deus ou permanecerei só. Se ainda hei de abraçar minha !" Esse é um trecho de uma canção de Gilberto Gil, que me faz lembrar-se de uma senhora que agradecia as pessoas por admirar as suas flores.
" Obrigado pela visita", diz ela com um enorme sorriso sincero. Com o mesmo sorriso amplo e franco, não pude resistir e perguntei: "Por que a senhora me agradece por observar o seu jardim?" Ela me olhou por um momento e respondeu: " Cada pessoa que para e olha as minhas flores, faz com que eu me sinta bem com o que faço, tento colocar um pouco de alegria nesse mundo tão ocupado, e quando alguém para e fica observando, sinto que estou fazendo um bom trabalho."
Minha avó fez a passagem quando eu tinha um ano e quando a nostalgia bate à minha porta, a personifico na figura daquela senhora do jardim tão simpática, enrugada, passos cambaleantes, cabelos na cintura, mas por toda a vida enrolados num coque baixo.
Só o tempo e os mistérios da vida podem dar de presente a velhice, tão repudiada atualmente. Ser jovem é fácil, ser criança mais ainda. Mas saber envelhecer é para poucos, o caminho é longo tortuoso e cheio de perdas. Mas é um caminho nobre e o mais próximo de Deus.
Eu quis contar esse fato, porque senti o desejo de retirar a generosidade daquela e de outras avós da mira do tempo. A palavra segura o significado dos acontecimentos e não permite que eles passem. E gestos como esses eu não gostaria que passasse. Não tenho mais nenhuma avó viva. Por isso, me "apodero" momentaneamente de todas as avós que se aproximam de mim com o olhar calmo de quem sabe viver.