quarta-feira, 25 de agosto de 2010

SETEMBRO EM NÓS

Setembro dá adeus a Agosto. O mês de nome pesado dá lugar à leveza do mês que é sinônimo de primavera. Passagem que nos leva a uma nova estação, novos ares, novas cores.
A vida é sempre generosa, penso nos mistérios de nossas passagens, nas novas oportunidades, nos desgotos que passou, para os setembros que há em nós. Na crueza de tantos acontecimentos que parecem dilacerar as esperanças humanas, condenando-nos ao mal da estagnação. O Mal é a ausência de possibilidades. Já não há o que intervir, o que fazer, o que perdoar, o que amar e nem o que dizer. No Mal, prevalece a consciência infeliz, a certeza de que não fez o que deveria fazer, que não amou o que deveria amar e que não foi o que deveria ter sido.
Ao contrário, o bem é a certeza de ter estado no lugar certo, fazendo ainda que precariamente o que era certo, e amando, mesmo nos limites da finitude do amor humano. O amor só é concreto a partir dos limites que são próprios de nossa condição. O amor nos faz esquecer, nos faz passar e nos faz permanecer.
Cada um carrega o peso que tem. Peso de ser o que é, de fazer o que faz. Há pessoas que decidem pelo mal, porque não se descobriram a tempo. Deixaram a vida passar e não concretizaram os seus sonhos. Optaram por mandar embora a sua verdadeira essência e acolheram um jeito alienado e estranho de ser. Permitiram que o medo, esse forasteiro que insiste em assassinar o que somos, vitimasse-lhes a sua verdade maior. Passaram a vida, convivendo com o cadáver de sua realização. Mataram-se e dispuseram-se a viver, velando a si mesmas.
Há pessoas que carregam o peso de não terem feito o que queriam, de não terem amado quem gostariam e de não terem lutado um pouquinho mais pelos sonhos que nutriam. Viveram e não descobriram a sabedoria que "setembros" podem nos trazer.