terça-feira, 25 de maio de 2010

SOMENTE O TEMPO SÓ

" Somente o tempo, o tempo só. Dirá se irei luz ou permanecerei pó, se encontrarei Deus ou permanecerei só. Se ainda hei de abraçar minha !" Esse é um trecho de uma canção de Gilberto Gil, que me faz lembrar-se de uma senhora que agradecia as pessoas por admirar as suas flores.
" Obrigado pela visita", diz ela com um enorme sorriso sincero. Com o mesmo sorriso amplo e franco, não pude resistir e perguntei: "Por que a senhora me agradece por observar o seu jardim?" Ela me olhou por um momento e respondeu: " Cada pessoa que para e olha as minhas flores, faz com que eu me sinta bem com o que faço, tento colocar um pouco de alegria nesse mundo tão ocupado, e quando alguém para e fica observando, sinto que estou fazendo um bom trabalho."
Minha avó fez a passagem quando eu tinha um ano e quando a nostalgia bate à minha porta, a personifico na figura daquela senhora do jardim tão simpática, enrugada, passos cambaleantes, cabelos na cintura, mas por toda a vida enrolados num coque baixo.
Só o tempo e os mistérios da vida podem dar de presente a velhice, tão repudiada atualmente. Ser jovem é fácil, ser criança mais ainda. Mas saber envelhecer é para poucos, o caminho é longo tortuoso e cheio de perdas. Mas é um caminho nobre e o mais próximo de Deus.
Eu quis contar esse fato, porque senti o desejo de retirar a generosidade daquela e de outras avós da mira do tempo. A palavra segura o significado dos acontecimentos e não permite que eles passem. E gestos como esses eu não gostaria que passasse. Não tenho mais nenhuma avó viva. Por isso, me "apodero" momentaneamente de todas as avós que se aproximam de mim com o olhar calmo de quem sabe viver.